Morro de Amores por Meu Senhor
Morro de amores por meu Senhor.
E Tanto que peço: aniquila-me, Amado.
Joga sobre mim um raio de teu amor
e espalha minhas cinzas sobre os homens,
para que todos saibam como meu Senhor é bom.
É daqueles carinhosos,
que não negam um consolo à amada.
E se prometem dão sempre mais que o prometido.
É pródigo o meu Senhor.
Derrama sobre mim seu amor em torrentes,
abrindo seus longos braços, que me enovelam em seu peito.
Tão quente, ardentíssimo o peito de meu Amado;
que enquanto me abraça, sussurra
(aos meus ouvidos canções as mais belas).
E nem fecho os olhos para ouvi-las;
pois onde encontrar beleza maior que
Fixo-me em seus lábios,
escarlates como a ferida em meu coração quando se vai.
Escarlates como o sangue que derramaria para tê-lo de volta.
Mas não demora muito o meu Amado;
é cuidadoso, tão solícito o meu Senhor:
vem sempre com um ramalhete nas mãos.
Na última vez, trouxe-me lírios os mais puros,
cândidos como os dentes que quase não se viam quando beijava as pétalas.
“São para o meu amor” — diz o meu Amado.
E quase desfaleço
— não fosse estar a própria minha vida a enredar-me nos braços.
Eu, uma quase meretriz,
que em ausência de seu senhor procura-o por todos os lados.
Mas não o encontrando, satisfaz-se,
não se satisfazendo,
com o pouco que são todos os outros.
Mas já o disse a Ele. E o fiz nestes termos:
“Amor, por que te demoras nas viagens?
Não sabes então que sou fraca
e sem ti corro logo a beber do regato mais próximo?
Não te demores, Senhor!
Que ao menos sempre mandes lembranças tuas,
ó rio cristalino.”
“Vem, vem logo — é o que clamo nas noites.
Vem que tenho sede.
E fecho os olhos a te imaginar.
Mas nenhum pensamento te chega sequer aos pés.
Uns pés que clamo para que me apareçam à frente
e eu os possa banhar com minhas lágrimas e meus beijos.
E com os cabelos enxugar.”
Assim digo ao Amado.
Que sorri aquele seu sorriso.
Não demores, Amado.
Não sabes que sou como meretriz,
que na ausência do senhor corre
a buscar beber do primeiro regato?
Não demores. Tem misericórdia.
E confia em tua amada,
que se esforça em te preparar as melhores iguarias.
Apesar de nenhuma digna de ti.
Pois se delas a maior sou eu mesma?!
Mas iguarias.
Onde se deleita Aquele que as tornou iguarias.
Vem, Amado.
Prova do manjar que te preparo com teu próprio amor.
Amo-te, Senhor. E não te trairia.
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