A Escada de Prata
Ó Amado, faze-me tão feliz...
Lembro-me de quando, mais moça,
bati à tua porta.
Eram uns trajes toscos os que eu usava.
Atendeu-me tua Mãe. Que logo me convidou a entrar.
“Que desejas?” — perguntou-me amável,
uma das mãos ajeitando os cabelos desta que hoje sempre os arruma.
Para ti, Senhor.
“Que desejas?”
“Teu Filho...” — sussurrei.
“Meu Filho?!” — disse tua Mãe, num leve espanto.
“Que desejas com meu Filho? Diz-me.
Ou não confias em mim?” — perguntou num recuo,
os braços assentados nos quadris. — “Diz-me.”
“Estou enamorada de teu Filho, Senhora — pus-me a dizer —,
e sem ele já não vivo.
É aportar o sol à minha janela
e já a escancaro de folha a folha,
postando-me no peitoril.
O vestido que então coloco, Senhora,
é o meu mais bonito:
um de seda, quase nácar.
E o pescoço, umas lindas pérolas são o que o adorna.
Sobre os cabelos derramo seivas as mais perfumadas.
Minhas mãos cheiram a alfazema.
E os olhos... os olhos são fitos
Que sempre me aparece como príncipe.
Tão garboso, Senhora...
Tem bons modos.
Tira o chapéu e seu cumprimento é o mais doce.
Mais doce até do que um rouxinol.
Não conheço rouxinóis, Senhora.
Mas o é.
Cumprimenta-me e segue o caminho.
Não deixando de olhar vez ou outra.
E diria mais: olha muito. Volta-me sempre o olhar.
Atencioso, educado teu Filho.
E tão forte! Benditos os seios que o amamentaram.
A boca que lhe ensinou tão finos modos.”
E teria dito mais,
não fosse teu Pai a chegar, sorrindo-me atencioso,
o chapéu na mão e o corpo dobrado numa mesura.
Foi-se um átimo;
e já era o meu corpo um se dobrar.
Vi teu Pai e achei que eram tão semelhantes...
Nele te reconheci. E não tive mais coragem.
Estremecida despedi-me e correndo voltei para casa.
Tua Mãe despediu-se e, olhando-me,
antes que eu tivesse saído, puxou-me um dos braços
e disse-me ao ouvido, enquanto me abraçava:
“Volte sempre;
e te ensinarei como conquistá-lo.”
Sorri largamente.
E como teria vergonha de voltar outra vez,
deixei cair o lenço
como pretexto para aparecer em tua casa no outro dia.
Sorris, Amado.
Mas de que sorris?
Não me sussurres, Senhor. Dá-me cócegas.
O quê?!! Já sabias de tudo, então?!
[Pulo para bater-lhe no peito. Mas me abraça e nos beijamos.
Faz-me tão feliz o meu Amado!...]
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