Marítimo
O solitário repousa à pedra
o seu corpo de âncora e algas.
Sentindo os dedos das ondas, diz
baixo: te peço: me afaga.
Diz baixo, e é como se dissessem
a pele, os ossos, a alma.
Já perto vêm uns errantes,
envoltos em capas, em cotas.
O homem levanta um dos braços,
e todo, inteiro, invoca:
meu Deus, salvai-me, cobri-me,
deixai-me liberto da horda.
A tropa, ó talho e gume!,
começa o escárnio, a não-dança.
Toma de facas, de maças,
golpeia o que a fúria alcança.
O homem se estende, sorvido,
tritão destituído da lança.
A ira, agora contida,
contente de seu linguajar,
sorri vendo o homem, seu peso,
que o impede de se levantar.
Também a dele leveza,
levada ao jugo do mar.
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