segunda-feira, outubro 30, 2006

Solidão em três Tempos

(Para as Duas Belas. E eu).


I

Meu nome é flor

E água correndo.

É cristal.


Quero torre portentosa

E uma minha efígie

Plantada em seu alto.


Sou sacerdotisa

De múltiplas faces,
Lápis-lazúli contorna-

-me o olhar.


Quero a corte dos silenciosos,

Olhares oblíquos sobre meu passear,

Eu a própria obliqüidade, uns meneios

de ancas. O olhar colossal.


Erigida me foi a efígie. O portento

Me foi dado, mármore e friez.

Oh gelo tocando minh’alma,

Inferno e pequenez.


Os charutos queimam-me a carne,

Evolo-me nas cigarrilhas,

Danço fingida o tango,

Silencio en la noche... en la noche.


Ah, torre maldita,

Por que te saíste tão alta?

Ninguém me alcança a mão.

O veludoso dos dedos

Não toca a minha cara.


II

Tens a face vermelhusca.

Quero quartos e claustros,

Jardins largos, extensão.


Babosas e papoulas por entre meus pés.

Acácias, muitas acácias;

Jasmim, lírio, nenúfar.

E uns tufos de junquilho para me abrigar.


Também dourados, róseos, brancos.

Um furta-cor, um fosco.

Azul será bem vindo.

Anil, celestial.


Larguras, construo larguras.

É preciso espaço

Para o madrigal.


E luzes. Mandei irisar uns vazios.

Esquadrinhai os vazios. Esquadrinhai.

Serei levada em nuvens de luz.


Tamanho temor de ser tão só,

Criei minhas lamparinas, azeitei

As lâmpadas e foram centenas

que espalhei.


Não há quem toque uma gota

De óleo em minha lucerna?

Não há?

Cansa-me uma boca tão grande,

Pendurada à minha frente,

Tão grande e tão muda.


III

Ah fáustico, fáustico ser,

Maldição. Bênção e

Maldizer. Tivesse um outro coração...

Pudesse outra vez escolher...