Solidão em três Tempos
(Para as Duas Belas. E eu).
I
Meu nome é flor
E água correndo.
É cristal.
Quero torre portentosa
E uma minha efígie
Plantada em seu alto.
Sou sacerdotisa
De múltiplas faces,
Lápis-lazúli contorna-
-me o olhar.
Quero a corte dos silenciosos,
Olhares oblíquos sobre meu passear,
Eu a própria obliqüidade, uns meneios
de ancas. O olhar colossal.
Erigida me foi a efígie. O portento
Me foi dado, mármore e friez.
Oh gelo tocando minh’alma,
Inferno e pequenez.
Os charutos queimam-me a carne,
Evolo-me nas cigarrilhas,
Danço fingida o tango,
Silencio en la noche... en la noche.
Ah, torre maldita,
Por que te saíste tão alta?
Ninguém me alcança a mão.
O veludoso dos dedos
Não toca a minha cara.
II
Tens a face vermelhusca.
Quero quartos e claustros,
Jardins largos, extensão.
Babosas e papoulas por entre meus pés.
Acácias, muitas acácias;
Jasmim, lírio, nenúfar.
E uns tufos de junquilho para me abrigar.
Também dourados, róseos, brancos.
Um furta-cor, um fosco.
Azul será bem vindo.
Anil, celestial.
Larguras, construo larguras.
É preciso espaço
Para o madrigal.
E luzes. Mandei irisar uns vazios.
Esquadrinhai os vazios. Esquadrinhai.
Serei levada em nuvens de luz.
Tamanho temor de ser tão só,
Criei minhas lamparinas, azeitei
As lâmpadas e foram centenas
que espalhei.
Não há quem toque uma gota
De óleo em minha lucerna?
Não há?
Cansa-me uma boca tão grande,
Pendurada à minha frente,
Tão grande e tão muda.
III
Ah fáustico, fáustico ser,
Maldição. Bênção e
Maldizer. Tivesse um outro coração...
Pudesse outra vez escolher...
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