Camafeu
A palavra é a infância
do menino, a infância
do adulto. Sua morada
e resíduo.
É de quando a poesia
dardejava os cantos,
os altos, as planícies,
o mundo.
Ela é a bola de cristal
de Dona Jurema. E também
as suas cartas. E as linhas
gravadas nas mãos espalmadas
dos homens.
As linhas e seus de-entre.
É o grito que ficou
guardado no baú antigo
da avó, cortando fatias de
manga para depois do almoço
— ô momento esperado...
Sentados todos à mesa,
as folhas da grande árvore
cobrindo a casa imensa
com sua sombra espraiada
até os fundos quintais.
O terreno largo estendido
até para além do tempo
nos olhos do menino
que cerrou os seus lábios
mantendo segredos futuros.
É escavoucar o terreno
para se chegar ao Japão
pelo túnel imaginário
até ver os homens-de-olhos-puxados, de-ponta-cabeça,
umas-sombrinhas-a-proteger-lhes-do-sol-nascente.
É ter coragem para tirar
o véu desde um instante
existente. Descido para então
se ter, no homem graúdo,
saudades imensas
do que depois se mostrará
em tentativas de inteireza.
Uma busca grandiosa
de dizer um dia: Encontrei:
Revi a caixa preciosa. E estou impressionado.
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