segunda-feira, outubro 30, 2006

Camafeu

A palavra é a infância

do menino, a infância

do adulto. Sua morada

e resíduo.


É de quando a poesia

dardejava os cantos,

os altos, as planícies,

o mundo.


Ela é a bola de cristal

de Dona Jurema. E também

as suas cartas. E as linhas

gravadas nas mãos espalmadas

dos homens.


As linhas e seus de-entre.

É o grito que ficou

guardado no baú antigo

da avó, cortando fatias de

manga para depois do almoço

— ô momento esperado...


Sentados todos à mesa,

as folhas da grande árvore

cobrindo a casa imensa

com sua sombra espraiada

até os fundos quintais.


O terreno largo estendido

até para além do tempo

nos olhos do menino

que cerrou os seus lábios

mantendo segredos futuros.


É escavoucar o terreno

para se chegar ao Japão

pelo túnel imaginário

até ver os homens-de-olhos-puxados, de-ponta-cabeça,

umas-sombrinhas-a-proteger-lhes-do-sol-nascente.


É ter coragem para tirar

o véu desde um instante

existente. Descido para então

se ter, no homem graúdo,

saudades imensas


do que depois se mostrará

em tentativas de inteireza.

Uma busca grandiosa

de dizer um dia: Encontrei:

Revi a caixa preciosa. E estou impressionado.